ESG, segunda parte.

No artigo ESG – Apresentação do Tema,[1] referimos que a sigla ESG, se por um lado expressa compromissos da pessoa jurídica de governança ética e impactos positivos das suas atividades no ambiente e na sociedade, notadamente do seu entorno, serve, por outro, de critério de investimentos com sustentabilidade. Aos tradicionais índices financeiros da empresa, tem sido acrescido, com relevante importância decisória pelo mundo investidor, o índice ESG, a medida em que o negócio orienta-se por fatores ambientais, sociais e de governança, com a tendência de nortear o fluxo de capital para a construção de uma sociedade mais sustentável.

CARLOS OTAVIANO & CARLOS OTAVIANO BRENNER DE MORAES FILHO.

Em continuidade ao que então escrevemos, pesquisa da agência americana Union + Webster revela que, em 2019, antes da pandemia, imaginemos hoje, 87% dos consumidores brasileiros já preferiam comprar de empresas sustentáveis. 

Tal dado evidencia uma realidade. Quando a empresa comunica para o meio social que a sua existência e finalidade vão além da receita e do lucro, que possui consciência de todos os interesses que podem ser impactados por suas decisões, demonstrando compromissos com a adequação das atividades a um cenário de  preservação ambiental e o desenvolvimento de ações concretas aptas a contribuir no processo de melhoria das condições de vida no círculo da sua atuação, passa a ser vista e conceituada pela população como uma empresa do “bem”, atualizada com o seu tempo e conectada com a sociedade. Ganham a imagem e a reputação. Receita e lucro, decorrências naturais. A mitigação de impactos não é mais um fim em si mesma, mas decorrência natural da criação de impactos positivos, mediante ações institucionais benéficas à sociedade e ao planeta, capazes de perpetuar a empresa.

Além dos investidores e dos consumidores, práticas ESG também despertam o interesse e prestigiam os colaboradores, o que contribui, sem dúvida, para o alinhamento e aumento da produtividade.

Conforme for o grau de mensuração do impacto dos investimentos em ações de desenvolvimento sustentável, será o índice ESG da empresa, sendo que estas ações devem abranger os três vértices, o ambiental, o social e a governança. O uso racional dos recursos naturais, a preservação da biodiversidade, a emissão de gases de efeito estufa, a poluição, o tratamento de resíduos e a eficiência energética são seus parâmetros ambientais. Políticas e relações de trabalho, direitos humanos, engajamento e treinamento dos funcionários, proteção de dados, relações e impactos positivos na comunidade, o vértice social. Independência do conselho de administração, critérios de diversidade na escolha dos seus membros, remuneração justa e racional, transparência fiscal, condutas éticas e anticorrupção nos negócios balizam as ações de governança.

Informa a EUROCICLE, que pesquisa da AMCHAM Brasil, 2021, apurou que 95% dos 178 líderes empresariais brasileiros entrevistados informaram que suas empresas já iniciaram algum nível de engajamento e ações sustentáveis,  sendo que 68% já reconheceram benefícios diretos dessa agenda nos negócios. Contudo, há ainda um caminho a ser trilhado. Outra pesquisa, da ANBIMA, mostra que apesar de grande parte dos gestores considerarem questões ESG para os seus negócios, apenas 11% contam com uma área específica para isso. 

Segundo o IBGE, são perceptíveis as mudanças relacionadas à inovação e à sustentabilidade, notadamente em termos de reciclagem de resíduos, águas residuais ou materiais para vendas; redução da contaminação a água, solo, de ruído ou ar; substituição, parcial ou total, de matérias-primas por outras menos contaminantes ou perigosas: redução da produção total de CO₂; substituição, parcial ou total, da energia proveniente de combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis.

Para garantia de que a organização realmente possua e pratique programas aderentes aos princípios de governança e socioambientais, surgiram os Selos ESG, protegendo consumidores, parceiros, fornecedores e investidores contra falsos anúncios de práticas sustentáveis, conhecidas como greenwashing, criadas com fins comerciais, obtidos a partir do diagnóstico da empresa, feito em cotejo aos  Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Vivemos novos tempos, novos valores, dentro e fora das corporações, como evolução natural da vida em sociedade. Há maior conscientização sobre o papel que as empresas devam desempenhar no cenário social.

Não se trata de modismo, de algo que tenha prazo de validade, ou de mote para negócios por assessorias. É uma concepção social real e inteligente, apta a induzir ações de melhoria das condições da coexistência humana, que se mostra natural e duradoura.

Empresas e empresários, não descurem. Não fiquem para trás. Daniela Klaiman, uma das principais referências em futurologia no país, afirma que as empresas e indústrias terão que migrar para esse modelo a médio prazo, por se tratar de um formato mais inovador, tecnológico e sustentável.[2]


[1] https://brennerdemoraes.com.br/2021/10/esg-apresentacao-do-tema/

[2] Blog Eureciclo – https://blog.eureciclo.com.br/impacto-positivo-vs-mitigar-impacto/

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